Ao pensarmos em psicopatia, temos a ideia de que os indivíduos que possuem esse perfil apresentam comportamentos, traços e atitudes característicos e que seriam muito fáceis de reconhecê-los na prática. Entretanto, os psicopatas enganam e representam situações de forma muito bem articulada, passando despercebidos aos olhos da sociedade.

A psicopatia é um tema muito significativo no campo da psicologia forense, já que seus portadores quase sempre estão envolvidos em atos criminosos ou em processos judiciais. Essa terminologia é a mais usual e conhecida no senso comum, mas pode receber outras denominações, bem como sociopatia, personalidade antissocial, personalidade psicopática, personalidade dissocial, dentre outras.

Os indivíduos que desenvolvem esse comportamento são desprovidos de culpa, remorso, sensibilidade e senso de responsabilidade ética. São pessoas de todos os estratos sociais, homens e mulheres, que estão infiltrados nos mais diversos contextos culturais e sociais.

As psicopatas possuem níveis de gravidade, dentre eles: leve, moderado e grave. Podem praticar desde atos menos danosos, pequenos golpes ou roubos, até um perfil que utiliza métodos mais brutais e violentos, podendo cometer crimes hediondos de alta complexidade.

Aqueles sujeitos com tendência psicopática possuem uma deficiência significativa de empatia, isto é, não têm habilidade de se colocar no lugar do outro; são indiferentes aos sentimentos e sofrimentos de outrem, não se sentem constrangidos ao mentir e não sentem nenhum remorso ao serem desmascarados.

Uma breve revisão da história da humanidade é capaz de revelar duas questões importantes que não dizem respeito à origem da psicopatia. A primeira delas se refere ao fato de uma psicopatia sempre ter existido entre nós. […] A segunda questão aponta para a presença da psicopatia em todos os tipos de sociedades, desde as mais primitivas até as mais modernas. Esses fatos reforçam a participação de um importante substrato biológico na origem desse transtorno. No entanto, não invalidam a participação significativa de que os fatores culturais podem ter na modulação desse quadro, ora favorecendo, ora inibindo o seu desenvolvimento. (SILVA, 2008).

A psicopatia é utilizada para especificar uma construção clínica ou uma forma específica de transtorno de personalidade antissocial que é prevalente em indivíduos que cometem uma variedade de atos criminosos e geralmente se comportam de forma irresponsável.

Embora os termos psicopatia e transtorno de personalidade antissocial estejam relacionados, esses construtos possuem muitas diferenças que devem ser ressaltadas. O transtorno de personalidade antissocial está presente no Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais-IV (DSM-IV TR) e na Classificação Internacional de Doenças (CID-10). A psicopatia não está incluída em nenhum desses manuais. O DSM apresenta o transtorno de personalidade antissocial ressaltando os critérios comportamentais, no entanto, a psicopatia não é apenas desenvolvida por questões comportamentais, mas também interpessoais e afetivas.

A psicopatia é entendida atualmente no meio forense como um grupo de traços ou alterações de conduta em sujeitos com tendência ativa de comportamento, tais como alertar por estímulos, delinquência juvenil, descontroles comportamentais, reincidência criminal, entre outros. É considerada como a mais grave alteração de personalidade, uma vez que os indivíduos caracterizados por essa patologia são responsáveis ​​pela maioria dos crimes violentos, comem vários tipos de crimes com maior frequência do que os não-psicopatas e, ainda, têm os maiores.

Principais Sintomas

  1. Encanto superficial e manipulação
    Nem todos os psicopatas são encantadores, mas é expressivo o grupo deles que utiliza o encanto pessoal e, consequentemente, a capacidade de manipulação de pessoas como meio de sobrevivência social. Através do encanto superficial, a psicopata acaba coisificando as pessoas: ele as usa e, quando não o serve mais, descarta-as, tal como uma coisa ou uma ferramenta usada. Talvez esse processo de coisificação seja a chave para compreendermos a absoluta falta de sentimentos do psicopata para com seus semelhantes ou para com os sentimentos de seus semelhantes. Transformando seu semelhante numa coisa, ele deixa de ser seu semelhante. O encanto, a sedução e a manipulação são características que se sucedem no psicopata. Partindo do princípio de que não se pode manipular alguém que não se deixe manipular, só será possível manipular alguém se esse alguém foi antes seduzido.
  2. Mentiras sistemáticas e comportamento fantasioso
    Embora qualquer pessoa possa mentir, temos de distinguir a mentira banal da mentira psicopática. A psicopata utiliza a mentira como uma ferramenta de trabalho. Normalmente é tão treinado e habilitado para mentir que é difícil captar quando mente. Ele mente olhando nos olhos e com atitude completamente neutra e relaxada. A psicopata não mente circunstancialmente ou esporadicamente para conseguir se certificar de alguma situação. Ele sabe que está mentindo, não se importa, não tem vergonha ou arrependimento, nem sequer sente desprazer quando mente. E mente, muitas vezes, sem justificativa ou motivo. Normalmente, a psicopata diz o que convém e o que se espera para aquelas circunstâncias. Ele pode mentir com a palavra ou com o corpo, quando simula e teatraliza situações vantajosas para ele, podendo fazer-se de arrependido, ofendido, magoado, simulando prova de suicídio, etc. Isso porque sua personalidade é narcisística: quer ser admirado, quer ser o mais rico, mais bonito, melhor vestido. Assim, ele tenta adaptar a realidade à sua imaginação, ao seu personagem do momento, de acordo com a circunstância e com sua personalidade narcisística. Esse indivíduo pode converter-se no personagem que sua imaginação cria como adequado para atuar no meio com sucesso, propondo a todos a sensação de que estão, de fato, diante de um personagem verdadeiro.
  3. Ausência de sentimentos afetuosos
    Desde criança, observa-se no psicopata um acentuado desapego aos sentimentos e um caráter dissimulado. Essa pessoa não manifesta nenhuma influência ou sensibilidade por nada e mantém-se normalmente indiferente aos sentimentos alheios. Os sentimentos comuns entre familiares não existem nos psicopatas. Além disso, eles têm grande dificuldade em entender os sentimentos dos outros, mas, tendo interesse próprio, podem dissimular esses sentimentos socialmente desejáveis. Na realidade, são pessoas extremamente frias, do ponto de vista emocional.
  4. Amoralidade
    Os psicopatas são portadores de grande insensibilidade moral, faltando-lhes totalmente juízo e consciência moral, bem como noção de ética.
  5. Impulsividade
    Também por debilidade do Superego e por insensibilidade moral, a psicopata não tem freios eficientes à sua impulsividade. A ausência de sentimentos éticos e altruístas, unida à falta de sentimentos morais, impulsionando a psicopata a cometer brutalidades, crueldades e crimes. Essa impulsividade reflete também um baixo limiar de tolerância às frustrações, refletindo-se na desproporção entre os estímulos e as respostas, ou seja, respondendo de forma exagerada diante de estímulos mínimos e triviais. Por outro lado, os defeitos de caráter costumam fazer com que a psicopata demonstre uma absoluta falta de ocorrência frente a estímulos importantes.
  6. Incorregibilidade
    Dificilmente ou nunca o psicopata aceita os benefícios da reeducação, da advertência e da correção. Podem dissimular, como dissemos, durante algum tempo seu caráter torpe e antissocial. Entretanto, na primeira oportunidade, voltam à tona com as falcatruas de praxe.
  7. Falta de adaptação social
    Já nos primeiros contatos sociais, o psicopata, desde criança, manifesta uma certa crueldade e tendência a atividades delituosas. A adaptação social também fica comprometida, tendo em vista a tendência acentuada do psicopata ao egocentrismo e egoísmo, características estas percebidas por muitos e responsáveis ​​pelas dificuldades de sociabilidade. Mesmo sem meio familiar, a psicopata tem dificuldades de adaptação. Durante o período escolar, tornam-se detestáveis ​​tanto pelos professores quanto pelos colegas, embora possam dissimular seu caráter sociopático durante algum tempo. Nos empregos, a inconstância é a característica principal.